Desembargadora aponta uso de secretária da clínica e esposa de funcionário rural em fraude do Solidariedade para eleger Juliana Tenório
Durante o julgamento ocorrido nesta terça -feira (8) no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), a desembargadora Karina Aragão, relatora do processo que trata de possível fraude à cota de gênero praticada pelo partido Solidariedade em Serra Talhada, foi enfática ao apontar indícios de candidaturas fictícias dentro da legenda com o objetivo de favorecer diretamente a vereadora Juliana Tenório, esposa do presidente municipal da sigla, o médico Valdir Tenório.
Segundo a magistrada, as candidaturas de Jéssica Bianca e Ana Michele, registradas para cumprir a cota mínima de 30% de mulheres na chapa proporcional, não apresentaram movimentações concretas de campanha e estavam diretamente ligadas à estrutura pessoal e profissional do presidente do partido.
“Jéssica Bianca sempre na condição de apoiadora. Sua presença foi registrada em imagens divulgadas nas redes sociais da própria beneficiária [Juliana Tenório], em contextos que a retratam como colaboradora direta da campanha, tendo a vereadora eleita se referido a Jéssica como parte de sua equipe de milhões”, destacou a relatora.
A desembargadora também enfatizou que Jéssica mantinha relação de subordinação com o presidente do partido, por ser funcionária da clínica pertencente a ele e à candidata eleita. Tal relação, somada à ausência de campanha efetiva, evidencia, segundo ela, a falta de intenção genuína de disputar o pleito.
Sobre Ana Michele, a situação foi considerada ainda mais gritante. A candidata obteve apenas três votos, declarou ter recebido mais de R$ 10 mil em material gráfico, mas não comprovou qualquer tipo de distribuição. A relatora destacou que a única imagem apresentada mostra Ana Michele com uma bandeira, sem data nem contexto que a relacione ao período oficial de campanha.
Além disso, foi identificado que o perfil oficial da candidata no registro eleitoral permaneceu inativo. Um novo perfil foi criado apenas em setembro de 2024, já durante o período de campanha, mas com postagens que remetiam à pré-campanha e à convenção. Para a Desembargadora Karina Aragão, trata-se de “uma clara tentativa de simulação”.
Diante do cenário, a Desembargadora concluiu que o partido Solidariedade, sob comando de Valdir Tenório, teria simulado as candidaturas apenas para preencher a cota de gênero exigida por lei. A sigla lançou como candidatas a própria esposa do presidente do partido, a secretária da clínica dele e a esposa de um de seus colaboradores.
Enquanto Juliana Tenório saiu vitoriosa das urnas, Jéssica Bianca e Ana Michele registraram votações simbólicas: 12 e 3 votos, respectivamente. O processo que teve origem na 71ª Zona Eleitoral de Serra Talhada, a partir de ação assinada pelo vereador Vandinho da Saúde já havia tido a cassação da chapa determinada em primeira instância.
Com o julgamento no TRE-PE iniciado nesta terça, o placar parcial é de 2 votos a 0 pela cassação, com pedido de vista por parte do desembargador eleitoral André Luiz.
O caso segue em análise pelo colegiado do TRE-PE, mas a contundência do voto da relatora já lança nova luz sobre a denúncia, fortalecendo os argumentos de quem acusa o Solidariedade de burlar a legislação para garantir o mandato de Juliana Tenório.
Do Júnior Campos