Três dias após ação violenta da PM, estado ainda não explicou de quem foi a ordem para atirar em manifestantes
Nesta terça (1ª), secretário de defesa Social, Antônio de Pádua, participou de encontro na Assembleia Legislativa. Segundo presidente de Comissão de Direitos Humanos, ‘ele deixou a desejar em respostas’.
Três dias após a ação violenta da polícia militar durante o protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no Centro do Recife, ainda não foi esclarecido de onde partiu a ordem para atirar balas de borracha e gás lacrimogêneo nos manifestantes. A operação, que ocorreu no sábado (29), deixou feridos e presos e provocou questionamentos sobre a conduta dos PMs.
Nesta terça (1º), o secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, foi chamado para uma reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). A presidente do colegiado não ficou satisfeita com as informações prestadas pelo gestor.
“Acho que ele deixou a desejar em algumas respostas. Ele não disse de quem foi a ordem. Fizemos vários questionamento que não foram respondidos”, afirmou a deputada Jô Cavalcanti, que integra o mandato coletivo Juntas (PSOL).
A ação truculenta deixou pessoas feridas e duas delas tiveram perda parcial de visão. A vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida por spray de pimenta no rosto. O cantor Afroito foi preso na manifestação e disse que temeu ser sufocado.
Ainda no sábado (29), a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) declarou que o estado não tinha determinado a ação. O governador Paulo Câmara informou, no mesmo dia, que tinha afastado o comandante da ação e policias envolvidos.
No entanto, até esta terça, o estado ainda não tinha divulgado os nomes dos PMs punidos. Na segunda (31), o secretário de Justiça, Pedro Eurico, repetiu que a ordem não partiu do governo e disse que não “há uma Polícia Militar paralela em Pernambuco“.
Mesmo diante de vários questionamentos, a Secretaria de Defesa Social (SDS) não esclareceu como a ação foi coordenada e quais os motivos de a operação não ter sido abortada, mesmo com monitoramento em tempo real.
Desde sábado, Paulo Câmara evita conceder entrevista para explicar a ação da tropa. Ele apenas se limitou a fazer um pronunciamento, pelas redes sociais, horas depois da ação.

Diante de todas essas questões, o coletivo Juntas, grupo de deputadas estaduais que representa o mandado do PSOL, chamou o secretário Antônio de Pádua para a comissão, presidida por esse colegiado de parlamentares.
O gestor da SDS foi até o encontro, com 16 dos 49 parlamentares, mas não quis falar com a imprensa para detalhar os assuntos discutidos no encontro. Depois de três horas de reunião com portas fechadas para a imprensa, as informações foram repassadas por deputados.
“Foi uma ação truculenta em um movimento pacífico. Perguntamos questões sobre o comando no batalhão e o secretário não respondeu”, afirmou a deputada Jô Cavalcanti.
Segundo ela, foram solicitados documentos para permitir o acompanhamento das investigações que estão sendo realizadas.
“Ele disse que vai enviar documentos e entregou os inquéritos que estão sendo feitos. Também queremos saber quanto custou essa operação”, declarou.

O presidente da Alepe, Eriberto Medeiros (PP), afirmou, depois da reunião, que o secretário prestou “esclarecimentos iniciais” e apresentou procedimentos investigatórios iniciados.
Segundo o chefe do Legislativo estadual, o secretário disse aos parlamentares que ” a ordem não partiu dele”.
Ainda sobre a origem da ordem para atirar balas de borracha e gás lacrimogêneo, o presidente da Alepe ressaltou que o secretário afirmou que “o comando da guarnição tem iniciativa de uma ação imediata”. Disse, ainda, que o secretário prometeu mais detalhes “em breve”.
Medeiros apontou que as imagens da ação são “fortes”, mas que “tudo será esclarecido pelos inquéritos policiais”.
Associação de Cabos e Soldados
Também nesta terça, a Associação Pernambucana de Cabos e Soldados deu uma versão da tropa para a ação violenta de sábado.
Presidente da entidade, Albérisson Carlos afirmou que o Batalhão de Choque não “saiu do quartel a seu bel-prazer”. Declarou também que nenhum “policiamento especializado vai para aquele local por vontade própria e que vai porque quem está monitorando sentiu a necessidade”.
Sobre a origem da ordem, o presidente da associação afirmou que seria “leviano” apontar de quem partiu o comando.
Ele declarou que “os companheiros que ali estavam agiram porque receberam um comandamento para que pudessem agir daquela forma”.
Para a entidade, a missão dos policiais no sábado era “impedir a chegada dos manifestantes ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo”.
“O objetivo do batalhão de choque é garantir a segurança quando a aglomeração é permitida. Nesse caso, a recomendação do ministério público foi para que não houvesse aquele tipo de manifestação”.
Em carta, a associação justificou que a ação foi realizada por causa de atitudes de grupos de manifestantes.
“Integrantes de partidos políticos de esquerda e de supostos movimentos que se intitulam defensores das classes menos favorecidas, os quais conforme vários vídeos e imagens que estão sendo divulgados, nas redes sociais, apedrejaram a PM e picharam vários ônibus, causando a toda população recifense, em especial, que estavam naquele momento, em pânico e insegurança”, disse a carta.
Investigação
A ação violenta da PM está sendo investigada pela Polícia Civil. A Secretaria de Defesa Social (SDS) abriu procedimento para apurar, com a corregedoria, a conduta dos policiais envolvidos.
Segundo o presidente da Alepe, Eriberto Medeiros., o secretário Antônio de Pádua afirmou, no encontro na Alepe, nesta terça (1º), que cinco homens foram afastados.
O Ministério Público de Pernambuco abriu um inquérito civil. Nesta terça, o MPPE disse que o secretário Antônio de Pádua foi alertado para o protesto de sábado pela 7ª Promotoria de Justiça e Direitos Humanos, que solicitou que ele orientasse a Polícia Militar para “evitar eventuais excessos”.
Nota
Por meio de nota, a SDS afirmou, nesta terça, que “a orientação das forças de segurança para o acompanhamento de manifestações é sempre a de garantir a ordem e a tranquilidade com a proteção de vidas e a preservação da integridade das pessoas”.
Ainda segundo a nota, a SDS informou “que só recebeu formalmente uma recomendação do MPPE, feita pela promotora Helena Capela, determinando procedências no sentido de impedir a realização da manifestação, em cumprimento às medidas sanitárias em vigor para prevenir a disseminação de Covid-19”.
Do G1 PE