“Ele disse: meu filho, quem tem inteligência muda, eu estou aberto a mudanças permanentemente. Eu soube mudar. O grande problema na vida é quando a gente não sabe mudar”, contou o padre Marcelo Barros em entrevista à TV Globo.
Líder da Igreja Católica em Pernambuco por mais de duas décadas (1964–1985), Dom Helder Camara foi um poeta com vasta produção, tendo escrito mais de 7 mil poesias
“Tinha a poesia nas suas veias, no seu sangue, na sua pele. Dom Helder conversava conosco de modo poético. Vivia como poesia, se movia, ria, andava poeticamente”, afirmou o padre e teólogo Marcelo Barros.
O acervo do arcebispo reúne mais de 220 mil páginas, que estão tombadas a partir de um decreto do governo do estado. O material reúne cartas, crônicas, mensagens e discursos reunidos em mais de 300 caixas.
A preservação desse conteúdo, no entanto, foi ameaçada após o local onde estava guardado o acervo ter sido invadido em 2020. Equipamentos foram quebrados e roubados do instituto que protegia as obras.
A partir de então, foi iniciado um processo que está sendo mantido em sigilo para organização, limpeza e, posteriormente, digitalização. Segundo o historiador do Instituto Dom Helder Camara (Idhec), Felipe Xavier, o religioso tinha o costume de anotar tudo o que pensava: “É por isso que nós temos esse grande acervo”, contou.
Outras instituições também fazem parte da salvaguarda do legado literário do Dom da Paz. A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) é parceira no projeto do Idhec, tendo digitalizado 120 mil páginas e feito o tratamento de 16 mil fotos que contam a história de parte do século 20 no estado.
De acordo com a superintendente de digitalização e gestão documental da Cepe, Simone Farias, as imagens do acervo passaram a ter uma maior nitidez. “Quando a gente fala em serviço de digitalização é preservar a informação além do tempo”, afirmou.
Segundo a coordenadora do curso de história da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Maria do Rosário da Silva, o material ficará à disposição de todos para que pesquisadores e pessoas que admiram a história do arcebispo “possam ter acesso de forma democrática, já que ela fica disponível como um acervo digital”, diz.
Com os 25 anos da morte do religioso, o desafio é construir um novo centro de documentação para guardar todos os arquivos em segurança. De acordo com o Idhec, o terreno já foi comprado, e a nova sede do Centro de Documentação (Cedoc) tem previsão de começar a ser construída ainda em 2024.
Do G1