Nomeações para Ministério da Justiça mostram acerto de Raquel Lyra em não ceder à pressa de aliados
A governadora eleita Raquel Lyra tem sido alvo de críticas e pressões de alguns setores da imprensa e de políticos para que anuncie logo seu Secretariado.
Acostumados com perfis mais estriônicos, useiros e vezeiros em vazamentos e peruas para testagem de nomes para certos postos, o meio político em Pernambuco tem estranhado o estilo reservado de Raquel, que já disse ter seu próprio tempo, que não é exatamente o mesmo dos que anseiam por saber se seus nomes ou de seus aliados estarão listados dentre os que farão parte do próximo governo.
A rigor, do ponto de vista prático, não faz muita diferença se nomes de Secretários são anunciados no dia seguinte à eleição ou no dia da posse da governadora, pois o novo governo só assume mesmo no dia primeiro de janeiro. Sequer esses futuros secretários têm poder para pedir informações sobre as Pastas que assumirão, pois essa função só é legalmente deferida à Equipe de Transição que já está atuando nesse sentido, de forma bastante competente, pelas mãos da vice-governadora eleita Priscila Krause, de modo que os futuros secretários ou secretárias receberão os diagnósticos de suas Pastas, com as informações básicas levantadas pela transição, podendo aprofundá-las oportunamente, mas apenas após a assunção aos respectivos cargos e isso só se dará em janeiro.
Se a governadora eleita decidiu prolongar o período de avaliação dos nomes que comporão sua equipe é porque tem suas razões para isso. Ao que parece, Raquel é um pouco mais cuidadosa do que costumam ser os demais políticos. Talvez por sua origem e formação, por ter sido delegada da Polícia Federal e por ser Procuradora, saiba que precipitações podem levar a erros e equívocos que depois serão difíceis de corrigir.
Por outro lado, apesar de estarmos festejando a decisão inédita do povo pernambucano de escolher três mulheres para os cargos mais importantes de representação no Estado, não podemos esquecer que vivemos em um País e em um Estado de cultura extremamente machista, onde o que nos homens é visto como normal, característico da personalidade, na mulher é logo apontado como defeito, fraqueza ou incompetência.
Raquel sabe muito bem que seus eventuais erros não terão a mesma tolerância que a conferida a equívocos de gestores homens. O que no homem é visto como espírito arrojado e aventureiro, na mulher se transmuta logo em irresponsabilidade.
Ciente de que por ser mulher será muito mais vigiada, cobrada e criticada do que o de costume, de que por ser a primeira mulher a governar Pernambuco, tem suas responsabilidades redobradas não apenas com o povo em geral, mas, em especial, com as mulheres que representa, Raquel tem adotado a prudência como norte e está certíssima.
Que sirva de exemplo o que ocorreu recentemente com as indicações de Flávio Dino para o Ministério da Justiça. Apesar de ser um político experiente, no afã de atender, a tempo e a hora as indicações de seus pares, em especial do seu Partido, o PSB, Flávio Dino acabou indo do céu ao inferno em poucas horas, quando teve que desanunciar nome que foi pessimamente recebidos pela opinião pública e pelos eleitores que colocaram o governo que integra no poder.
Além de ter que desanunciar o nome indicado pelo governador do Espírito Santo, para a direção da Polícia Rodoviária Federal, por ser associado a ataques ao futuro presidente Lula, Dino está enfrentando resistência, críticas e até abaixo-assinados por ter aceitado, sem questionar, a indicação, pelo vice Geraldo Alckmin, de um policial militar associado ao massacre do Carandiru, para comandar a administração Penitenciária nacional.
A pressa quase sempre é inimiga da perfeição e nas decisões que devem ter repercussão a médio e longo prazo, quase sempre, o agir açodado leva a escolhas duvidosas. Se Dino tivesse tido a mesma atitude cautelosa de Raquel, estaria sendo cobrado por demorar, mas não por errar feio nas escolhas.
Paciência é uma virtude e como ensina a sabedoria popular, prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Vamos aguardar que no tempo certo e a seu tempo, a governadora descortinará os nomes que comporão seu time. O que importa mesmo não é quando nomes dos secretários serão anunciados, mas que esses nomes sejam capazes de entregar a Pernambuco os resultados que povo pernambucano precisa e quer.
ricardoantunes