A malhação de Judas se perdeu no tempo, mas tenho boas recordações
Por Ananias Solon, Zootecnista, historiador e escritor serra-talhadense
Lembro-me com saudades dos tempos de garoto na Fazenda Icós-Serra Talhada-PE. Na Semana Santa (Quaresma) o povo da ribeira, se reunia no Sábado de Aleluia para fazer o ‘massacre a Judas’.
Essa festa é tradicional nos rincões dos sertões, tem suas origens na Europa, foi trazida para o Brasil pelos Portugueses na época da colonização, ficando assim uma festa popular cultural em nosso calendário em todas regiões, principalmente no Nordeste.
É uma festa tipicamente ‘Profana, de cunho religioso; tem um ritual que consiste numa confecção de um ‘boneco de pano’, recheado de folhas, papel, etc. A cabeça geralmente é confeccionada com uma cabaça de forma que fica um boneco transvestido de gente, representando Judas Iscariotes, o apóstolo que traiu Jesus Cristo.
Coloca-se o suposto Judas amarrado numa árvore e já a noitinha, o povo da comunidade, juntos em um gesto de represália em forma de escárnio a Judas pela traição a Cristo; Ele é apedrejado, malhado, xingado e até queimado, com sentimentos de justiça àquele que veio ao mundo para nos salvar.
E a festa seguia em ritmo de alegria, seriedade e divertimentos. Todos participando; meninos, homens mulheres; ficou gravado na memória essa tremenda celebração, que normalmente nesse período o Rio Pajeú com suas enchentes; muita fartura de legumes, milho verde, feijão etc.
Eu acompanhava curiosamente, desde da confecção do maldito Judas, até a consumação do episódio, com o Judas sendo surrado e destruído jogado nas correntezas das águas do Pajeú.
Mas vejo hoje uma nova geração (nutella) que abrange uma faixa etária dos 35 anos, que acho na maioria não sabem o que é a Malhação de Judas no Sábado de Aleluia, e nem nunca ouviu falar nessa tradição.