Homenagem de Luiz Ferraz Filho: O TOCADOR E O ZABUMBEIRO

O mundo perdeu um grande artista, mas o céu acolheu o nosso mais versátil sanfoneiro IVALDO NOGUEIRA (Ivaldo de Zé Baldu). Foi com essa concepção que meu coração se conformou com a notícia do falecimento do amigo Ivaldo Nogueira, na tarde deste domingo (5) de junho. Nascido em 15 de janeiro de 1956, na Fazenda Cipós, numa família de talentos, tinha tudo pra ser mais um dos inúmeros artistas de nossa terra. Porém, ao nascer com deficiência visual, Ivaldo Nogueira tornou-se um gênio e um símbolo de perseverança para todos nós. Nunca esquecerei da oportunidade que tive de ajuda-lo tocando zabumba durante uma tarde inteira de forró em Nazaré do Pico. Foram mais de seis horas de forró. Fiquei na responsabilidade de ser o guia de Ivaldo e nem pude curtir a festa. Como bom profissional, ele não parou a sanfona um minuto. Fiquei o tempo todo impressionado, olhando para a dedicação e o amor dele pela música. Teve uma hora que todo mundo desceu para a festa da Missa do Vaqueiro, e ele sentindo o silêncio, me perguntou se ainda tinha alguém no forró. Vendo aquela animação dele, eu não quis revelar a verdade. Disse a ele que estava lotado, mas ele percebeu a minha mentira e falou:

– Como eu não enxergo nada, pra mim toda hora a festa está lotada.

Deu uma risada e começou a tocar a música ‘Luiz Respeita Januário’, como se fosse um aviso. Foi um dos grandes momentos da minha vida. Nunca vou esquecer. Eu fui a plateia de uma pessoa só. Mas, agora a sanfona silenciou. Que Deus o tenha em ótimo lugar. Amém.

 

Luiz Ferraz Filho

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